Nota

Em Gilberto Freyre, Brasil como presente da comida

Por que “Casa-Grande & Senzala” ajuda a compreender, também, papel da alimentação no desenho dos dramas e encantos do país

Por Raul Lody, colaborador do site Malagueta | Imagem: Jean-Baptiste Debret, Um jantar brasileiro (1927)

O livro germinal de Gilberto Freyre, que em Dezembro de 2013 completa 80 anos da sua primeira edição, tem a virtude de ser sensível diante da complexidade das suas grandes questões sobre um Nordeste fundado no açúcar. Gilberto se propõe a revelar “o seu” Nordeste ao leitor. Um Nordeste orientalizado a partir das matrizes lusas com os seus encontros com a China, Índia,

casagrandejorgesabino2Japão; e nas tradições moçárabes e judaicas.

Um nordeste da Zona da Mata de Pernambuco. Sim, Pernambuco como um foco possível e preferencial de Gilberto. O livro Casa-Grande & Senzala é também um depoimento vivencial de Gilberto, que mistura endoetnografias nos cenários do Recife.

Assim, ele traz leituras e experiências familiares; também dá interpretações sentimentais; e ainda busca os sinais de uma região orientada pelo patriarcado que nasce na cana sacarina.

 

 

 

É uma obra para muitas interpretações, para ser revisitada apontando-se para as cozinhas como experiências formais da identidade do brasileiro. Por ser um livro de vocação sensorial, sugiro ler algumas páginas ao sabor de um bolo de massa de mandioca, ou bebendo um boa cachaça, para que se possa assim ter um encontro hedonista ao gosto de Gilberto.

Ele se revela hedonista quando traz de Ruth Benedict os seus conceitos de “apolíneo” e de “dionisíaco”. São encontros desejáveis e necessários ao tema açúcar, um tema nem sempre tão “doce”.

Entender ainda que Gilberto tem suas preocupações literárias e estéticas com Casa-Grande & Senzala. Ele relata ambientes, festas, indumentárias, comidas, processos culinários, rituais de comensalidade. Gilberto tem um olhar iconográfico dominante, e recorre ao desenho e a pintura como processo de criação e de representação cultural.

Estes imaginários estão nos textos, e pode-se dizer que Casa-Grande & Senzala é um livro “cinematográfico”. E com este desejo visual, Gilberto mostra o melhor deste livro.

Tudo acontece em contexto ecológico, na Mata Atlântica e nos canaviais, temas que mais tarde são aprofundados no livro Nordeste. Esta sociedade do século XIX, exemplar em Casa-Grande & Senzala, é ampliada também em Sobrados e Mocambos, com um olhar mais urbano sobre a civilização que nasce do açúcar.

Casa-Grande & Senzala mostra as histórias das “casas” e das pessoas que vivem nestas casas.casagrandejorgesabino1 Relata religiosidade, maneiras de fazer a comida, escolher os ingredientes; as muitas receitas de um Portugal já globalizado com as “grandes navegações” que aproximaram o Oriente do Ocidente. Esta obra mostra as festas, os rituais do plantio e da colheita da cana sacarina; os encontros de portugueses africanizados pelo Magreb, de povos nativos, de milhares de africanos da Costa, que revelam novos gostos e interpretações de sabores que se espalham pelas cozinhas, pelas mesas, num Brasil à boca.

Gilberto quer apresentar um lugar possível do “trópico”. Mostrar uma civilização onde o poder formal está no mando masculino. Contudo, este poder está também nas cozinhas, territórios consagrados ao mando feminino. Cozinhas na “Casa-Grande”, lugar onde as relações sociais são formalizadas na intimidade de espaços geradores de comidas, de um poder que se projeta no ato da alimentação.

Gilberto revela os rituais das alimentações, inclusive dos “santos”, que são íntimos nestas relações sociais já à brasileira. O Menino Deus, para adoração e para o convívio com as crianças da “casa”, torna-se tão próximo que parece estar também se lambuzando de geleia de araçá.

Outros doces são marcantes e, em especial, os “bolos”, tema que fundamenta o seu livro Açúcar, também dos anos 1930. Gilberto mostra o doce como um preparo feminino, marcado pela mulher lusa como uma atividade especial, pois o doce tem um preparo que vai muito além do açúcar. É um preparo de memórias ancestrais da história colonial lusa.

O termo “doce” valoriza e qualifica aspectos sociais como, por exemplo, “você é um doce”; “te dou um doce”; tudo mostra o açúcar como formador de laços sociais, e isso também é retratado em Casa-Grande & Senzala.

As referências dos sabores, a nova forma para se construir o paladar, o reconhecimento do que é o gosto gostoso, daquilo que chega de Portugal com os “gostos do mundo”, e se misturam com este Brasil de mandioca, de peixes, de milho, de pimentas frescas, e de muitos outros produtos da “terra”, produtos nativos.

Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, expõe uma sociedade que se revela à mesa. É assim que ele quer interpretar o brasileiro: “a partir da comida”. Casa-Grande & Senzalaé uma construção formal de análise que está na tese Social life an Brazil in the middlle of the 19th Century para o título de Master Artium ou Master of Arts, Columbia University, 1922.

Com certeza, em Gilberto, estão todos os sentimentos do gourmet, do antropólogo e do artista, todos reunidos na sua maneira pessoal de gostar do Recife.

Comida de matriz africana em Casa-Grande & Senzala

Na busca de uma “unidade”  na formação colonial  marcada pela cana sacarina  no Nordeste, Gilberto recorre às bases étnicas, mantendo o pensamento dominante à época ( anos 1930) sobre a trilogia: europeu, africano e indígena.

Gilberto em Casa-Grande & Senzala expõe o que é europeu com ênfase no que é lusitano e ibérico; e ao que é “nativo”, indígena.  Já aquilo  que é africano assume um destaque intencional,  e ganha na obra um desejo de  maior aprofundamento.

O autor olha para as relações da África magrebina e a sua civilização afro-islâmica na península  ibérica  atuando na formação das cozinhas da Espanha e de Portugal.  Mostra o africano em condição escrava, e destaca os papéis sociais da mulher africana, entre eles, o de fazer comida, e vender nos “ganhos”,  e nas “quitandas”. Está na mulher o amplo repertório de sabedoria culinária e de memória cultural.  A mulher como yá bassê ( básè, em Yorubá, significa assistente de cozinha) é  a responsável pela cozinha sagrada dos terreiros da tradição Nagô, e assim  mantém  as receitas de uso religioso.

Gilberto destaca a ação civilizadora da mulher africana nas casas dos engenhos, nos ofícios das cozinhas,  na mistura das receitas de Portugal com os ingredientes da “terra” , e com os acréscimos que chegam das memórias africanas. São novos gostos, gostos  em construção, gostos brasileiros.

Ele olha para a cozinha no contexto  das relações interafricanas, dos  africanos em condição escrava, da crueldade da vida na plantation dos engenhos de se fazer açúcar, sem mergulhar numa “cordialidade” idealizada.

Embora o Nordeste seja exemplificado e aprofundado em Pernambuco, Gilberto mostra a Bahia como um território de força e de expressão africana, e ainda cita o Maranhão e o Rio de Janeiro. Porém está em Pernambuco o foco e a experiência etnográfica de Gilberto, que se inclui como um viajante da sua própria cidade, o Recife.

Em outras obras, o sociólgo destaca as comidas do terreiro Obá Ogunté, Seita Africana Obá Omim, do Recife, em Água Fria, e localiza o importante babalorixá Adão Costa. Relata experiências gastronômicas neste terreiro de Xangô da tradição Nagô, tido como o mais antigo do Recife.
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Gilberto valoriza [e certamente gosta] as comidas afrodescendentes, e assim chama  esses  acervos culinários de “manjar africano”.  Informa sobre o uso de folhas nos processos culinários africanos, e nesta verdadeira fusion, unem-se tecnologias de embalar e de produzir comida a partir de modelos milenares americanos dos “tamales”, com receitas que expõem uma cozinha de matriz africana onde se notabilizam o acaçá, o abará, e outras comidas embaladas em folha de bananeira.

Casa-Grande & Senzala detalha a feitura do acaçá, uma comida de milho branco, milho de mungunzá; uma massa cozida sem temperos para acompanhar vatapá, caruru de quiabos, peixes no dendê. Destaca assim os processos culinários com o uso da “pedra”, do pilão lítico, para processar o milho e o feijão,  bases do acaçá e do abará.

Na Bahia se valoriza a “pedra do acarajé”, que é o pilão, pois se considera que ele dá a melhor textura para as massas do acarajé, do abará e do acaçá. Nestas comidas estão as assinaturas das “baianas”, notabilizando o acarajé mais crocante, o abará melhor recheado; são comidas autorais de tabuleiro.

As comidas de “tabuleiro”, hoje identificadas pelos: acarajé, abará, cocada, bolinho de estudante; e também pela “passarinha”, estão nas ruas, praças, adros, no caso da cidade do São Salvador. Permanecem os imaginários dos ganhos. É um ofício, que hoje, na grande Salvador, reúne mais de três mil “baianas  e baianos de acarajé” .

Gilberto traz, em Casa-Grande & Senzala, os “bolos de tabuleiro”, certamente  criando  categorias para os bolos. Pois os bolos identificam um lugar especial da doçaria pernambucana.  Receitas dos conventos de Portugal, outras da confeitaria popular, e outras das comidas de rua que se encontra com a mandioca, e outros ingredientes da “terra”.

No Recife, em carrinhos de madeira, ainda hoje são vendidos bolos e biscoitos,  próximos em forma e  gosto das suas fontes portuguesas. Tortas enroladas que remetem as tortas do Azeitão (Portugal), bolos verdadeiramente ancestrais; base do tão querido “bolo de rolo”, na verdade “torta de rolo”.

Ainda, tão do gosto e do cotidiano das mesas do Nordeste,  estão as receitas de cuscuz. Tradição da África mediterrânea, da África magrebina, que ganha interpretações  com a farinha de milho, com a massa da mandioca , com o leite de coco, e com muitos outros acréscimos nas receitas.

Gilberto tem o desejo de marcar os territórios dessas matrizes do continente africano; ora afro-islâmica, ora das “Costas” – ocidental, austral, oriental –, e assim busca mostrar, preferencialmente pela comida, essas chegadas e  essas formas de civilizar o Brasil.

Sabores ibéricos em Casa-Grande & Senzala

Gilberto valoriza uma ancestralidade de sabores decorrentes da península ibérica, e assim louva Portugal com todos os sabores reunidos de um povo globalizado pelas grandes navegações.

Tudo está em um Portugal ibérico com territórios africanizados pelo Magreb afro-islâmicos. Do norte da África chegaram também civilizações do Mediterrâneo, a civilização da “oliva”, do “vinho”, do “queijo”. Pelas rotas das especiarias, Portugal retoma as rotas romanas que o levam para o Oriente, para a África das costas do Atlântico e do Índico; e ainda amplia as suas relações, e comércio, nas Américas e o no Caribe.

Com todos estes elementos de civilizações do Ocidente e do Oriente, chegam novas construções de sabores, de técnicas culinárias, de objetos de cozinha e de serviço à mesa; e receitas, muitas dos cardápios do cotidiano, e outras das festas, festas religiosas, essencialmente católicas.

Embora de um rico acervo de ingredientes, de receitas, de um Portugal de além-mar, Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, aponta para questões econômicas, e os diferentes processos sociais que fazem parte da alimentação no Brasil colônia, e diz:  “Má nos engenhos e péssima nas cidades: tal a alimentação da sociedade brasileira nos séculos XVI, XVII, XVIII. Nas cidades péssima e escassa.”

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Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, quer mostrar o Nordeste do século XIX sob o regime patriarcal que foi fundado no açúcar da cana sacarina, e uma análise da civilização ibérica no trópico. Assim, escolhe a comida para interpretar essa compreensão colonial. Mostra, com outro olhar, a “idealizada” contribuição holandesa na cozinha regional, e diz sobre o “brote”, um tipo de biscoito enquanto, talvez, uma possível “permanência” dos batavos em Pernambuco. Pois nestes momentos da “Maurícia”, passava-se fome no Recife, os soldados batavos caçavam inclusive ratos para comer.

Gilberto assim louva a farinha de mandioca e tudo que chega dela, e diz: “o próprio feijão já é luxo”. A maioria dos produtos da tradição alimentar ibérica: azeite de oliva, azeitona, vinho, farinha de trigo, e queijo chegavam de Portugal. Ainda, Gilberto diz que os cardápios mais comuns do cotidiano, da subsistência, estavam baseados na farinha de mandioca e no charque. Os desenhos das mesas repletas de comidas, num cenário de prataria, de sedas, de festas magníficas, estão, na maioria, em leituras ingênuas sobre estes processos econômicos e culturais sobre a comida possível no nordeste do Brasil colônia.

Contudo, Gilberto que exibir as mesas de celebrações, mesas com montes de açúcar, para indicar o poder do senhor de engenho. Sem dúvida, o açúcar é o orientador e formalizador das relações sociais. É também com o açúcar vêm as antigas receitas dos mosteiros de Portugal, que são realizadas e reinventadas nestes contextos da mandioca e das suas muitas possibilidades culinárias . Com a colonização, as referências das culturas de Portugal estão no idioma e na comida. Comida formada a partir de receitas moçárabes, de base muçulmana, como mostra Arte da Cozinha (1692) de Domingos Rodrigues: carneiro mourisco, galinha mourisca, entre outros. Também há a comida dos mosteiros medievais. Espaços consagrados as “regras” de alimentação e do “jejum”, uma orientação para a falta de comida, uma santificação para os períodos de comida rara, mesmo em Portugal.

Bolo do AzeitãoAssim, os cardápios e as receitas especiais, que se juntam às tradições populares e as “cozinhas” sofisticadas dos moçárabes na península ibérica, vão construindo uma “cozinha” de formação tropical, e que recorre também aos imaginários medievais dos conventos e mosteiros. Ordem dos Agostinhos, dos Beneditinos, das Carmelitas, dos Jesuítas, entre outras.

Sabores “santos” que chegam às receitas de: morangos no vinagre, caldo de acelgas, bispos, leite frito, natas imaculadas, frango no vinho da missa, arroz com leite, entre muitas, muitas outras receitas conventuais. E alguns doces: amorzinhos de noviça, argola de abadessa, barrigas de freira, fatias celestiais, queijinhos do céu. E alguns exemplos que trazem os “pontos do açúcar”: de pasta, de fio, de cabelo, de pérola, do assoprado, de espadana, de rebuçado …

Filhoses da Ilha Terceira AzoresTudo traz os encontros e as criações, pois, “navegar” e principalmente comer é preciso. Invenções nas cozinhas e descobertas à mesa.

 

13 Dicas de Como Harmonizar Cerveja com Gastronomia

 

Cervejas são versáteis e diversas em estilo, sabor, aroma, corpo, cor, amargor, acides, teor alcoólico, entre outras características. Essa diversidade nos permite ter grandes experiências tanto complementando quanto contrastando com os sabores da comida. A cerveja certa melhora o sabor do seu prato.

 

Seguem 13 dicas especiais para que você atinja a maior satisfação possível durante uma refeição regada a cervejas tradicionais:

 

1 – Pratos leves, cervejas leves: procure equilibrar o nível de complexidade, peso e intensidade do prato com o da cerveja. Pratos de sabor leve e suave devem combinar com cervejas também leves. Cervejas encorpadas tendem a “apagar” e se sobressair sobre o sabor de pratos leves. Pratos de sabor forte devem ser armonizados com cervejas encorpadas e de sabor intenso. Por exemplo, camarão combina com Weizenbier ou Kölsch (cervejas suaves, de baixo amargor). Feijoada combina com Dunkel, Rauchbier e Weizenbock (sabores fortes tostados, terrosos, defumados e caramelizados).

 

2 – Combine sabores semelhantes: procure unir doce ao doce e ácido ao ácido. Harmonize uma levemente ácida Weizenbier com um Ceviche (peixe marinado no limão). Pato com molhos adocicados (de frutas e/ou redução de vinhos) combina bem com Doppelbock, Bock, Weizenbock e Cream Stouts (doces).

 

3 – De vez em quando ignore as dicas anteriores e faça novas experiências. Teste o contraste de sabores (Stout com ostras), assim como novas formas de complementação. Você vai se surpreender com o que pode descobrir.

 

4 – Se você é conhecedor de vinhos, pense em uma Ale escura como um vinho tinto e em uma Lager clara como um vinho branco. Pense em cervejas de alto amargor como vinhos bem ácidos ou com bastante taninos.

 

5 – Gosto é subjetivo. Cada pessoa percebe sabores e aromas de uma forma muito particular. Não fique restrito a regras. Se estiver bom pra você, relaxe e aproveite. Mas esteja sempre aberto a sugestões.

 

6 – Em um “Beer Dinner” (jantar com cerveja), procure servir as cervejas e pratos mais leves primeiro, crescendo em peso e intensidade no decorrer da refeição, para que as mais encorpadas não façam com que as leves pareçam “aguadas”. O mesmo vale para cervejas secas (amargas) e doces. Comece pelas secas.

 

7 – Carbonatação: o CO2 presente na cerveja tem a capacidade de limpar os sabores fortes e gordurosos da comida e deixar sua boca pronta para a próxima garfada, como se cada uma fosse a primeira. Prove uma Dunkel com uma costela ou feijoada e verá o resultado. O CO2 refresca o paladar e concentra os aromas da cerveja, fazendo-os chegar ao seu nariz.

 

8 – Amargor: o amargor estimula o apetite e é o contrapeso para o açúcar residual deixado pelo malte. Com uma função parecida com a da carbonatação, o amargor tem a capacidade de limpar o paladar, cortando a gordura e os sabores de pratos pesados. Prefira pratos apimentados e gordurosos com cervejas de alto amargor, como as IPA (India pale Ale), Pale Ale e Amber Lager.

 

9 – Identifique o elemento mais forte. Procure encontrar no prato o ingrediente de sabor e aroma mais intenso. Ele pode ser a carne, o molho ou o acompanhamento. Combine a cerveja com esse elemento mais forte.

 

10 – Evite cervejas muito alcoólicas com pratos apimentados. O álcool intensifica a força da pimenta.

 

11 – Dois sabores iguais presentes no prato e na cerveja, quando combinados, tem a sua percepção reduzida. Cerveja defumada combinando com prato defumado diminui a percepção de defumação em ambos. Prato doce com cerveja doce diminui a percepção adocicada em ambos.

 

12- Cervejas doces e sabores torrados: cervejas com bastante açúcar residual (Bock, Weizenbock, Barley Wine, Cream Stout) combinam com pratos com molhos adocicados e molhos agridoces, presentes na comida chinesa, por exemplo. Cervejas feitas com malte torrado apresentam sabores de torrefação, parecidos com o de um café expresso (Schwarzbier, Dunkel, Stout). Esses sabores combinam perfeitamente com comidas grelhadas e com sobremesas de chocolate.

 

13 – Cerveja com sobremesa: a cerveja certa pode combinar maravilhosamente bem com sobremesas. Imperial Stouts (açúcar residual, malte torrado), combina bem com chocolates meio amargos. Kriek belga (cerveja feita com cereja, frutada) combina bem com sorvete de baunilha ou com cheesecake.

 

SUGESTÕES DE HARMONIZAÇÃO COM EISENBAHN

 

Kölsch – Saladas, peixes delicados, molhos de base cítrica, lagostas, mariscos, camarões e siri.

 

Dunkel – Feijoada, carne de porco com molhos com frutas; chucrute,carnes assadas, combinações doces e salgadas, lingüiças , frango assado, peixes encorpados, molhos funghi e comida Chinesa.

 

Weizenbock – Pato, carne de cervo, carne de vitela, goulash.

 

Weizenbier – Comidas mexicana, tailandesa, indiana e chinesa; salsicha de carne de vitela branca com mostarda doce; carne de porco assada, frutos do mar ao vapor e lagosta.

 

Pilsen Orgânica – Valem as mesmas sugestões que acompanham a cerveja Pilsen.

 

Pilsen – Pratos com peixes delicados, mariscos, crustáceos, sushi, lingüiças e saladas.

 

Pale Ale – Combina com carne de carneiro, de porco e de gado. Queijo Roquefort, salsichas alemãs e pratos condimentados.

 

Rauchbier – Pratos com carnes assadas, peixes defumados e carnes defumadas. Produzida especialmente para harmonizar com charutos.

 

Weihnachts Ale – Combina com carne de carneiro, de porco e de gado. Também com peru grelhado ou assado. É perfeita para a ceia de Natal.

 

Eisenbahn Strong Golden Ale – Combina com massas com molhos pesto ou de mexilhões, com frutos do mar, comida indiana, tailandesa e ostras.

 

Lust – Ideal como aperitivo ou acompanhando entradas e sobremesas.

Resenha “Gastronomia brasileira: legitimidade e legibilidade”

 

 

“Conciliar legitimidade (enraizamento territorial) e legibilidade (enraizamento histórico no sistema culinário no qual comemos) é o caminho mais difícil. Exige dosar o exótico de nós mesmos com a banalidade de nós mesmos. Exige mergulhos no óbvio – feijões, farinhas de mandioca, derivados do milho, interiores de animais, frutas mais comuns,etc – com leveza, clareza, criatividade e, sobretudo, palatabilidade.” Carlos Alberto Dória

 

            Acho que ao fazer esta pergunta obteremos respostas tão diversas, ao mesmo tempo, verdadeiras e corretas quanto o número de “cozinhas brasileiras”. Por menos que alguém tenha se debruçado sobre este assunto é possível perceber que no Brasil existe uma pluralidade enorme de pratos e ingredientes que representam as regiões de Norte a Sul e que em determinado local representa a mesa do nosso povo. Isso deixa bem claro que existem muitos Brasis dentro no nosso país e isso pode ser dito com relação a manifestações culturais como um  todo, a comida é apenas uma parte.

            O texto de Dória fala, despertando ótimos questionamentos, também sobre está questão da identidade da nossa cozinha. Apresentando os conceitos de Legibilidade e Legitimidade  o autor tenta dar a sua impressão sobre este assunto tão com plexo e que move tantas paixões, sendo por isso muito interessante. Segundo o autor, aquilo que é legítimo de uma região, ele cita o Tucupi como exemplo, nem sempre é legível para a maioria do país, ou seja, o fato de ser típico de um lugar e consumido pelas pessoas, portanto legítimo, não se apresenta legível a população brasileira que não vive no Amazonas e outros estados do Norte.

            Sob este ponto de vista poucos elementos podem ser chamados de “cozinha brasileira “, o autor dá o exemplo do arroz com feijão como um prato verdadeiramente nacional, pois é consumido em praticamente todos os lugares. Mas Dória deixa um pouco de lado e extensão territorial do Brasil que torna praticamente impossível, até pela diversidade de climas e ecossistemas, a existência de uma Legibilidade em termos nacionais. Acredito que só é possível se estabelecer este conceito esquartejando, termo usado por ele, nossa cozinha, como não apontar o cuscuz do Nordeste como legível ? Mas ele não é consumido no país inteiro, assim apesar de legível para os nordestinos ele não seria para os sulistas, por exemplo.

            O Tucupi é mais fácil de classificar como legítimo, pois é um ingrediente de uma região com menor visibilidade nacional e com produção bem localizada. Penso que esse é o ponto marcante do texto, a chamada Gastronomia de Ingrediente, essa sim muito mais legítima que legível, ou, na minha opinião, muito mais oportunista do que verdadeira. Uma gastronomia que vem no embalo de um Brasil que o mundo está conhecendo agora, da própria descoberta, pelos brasileiros, da gastronomia em si e que alguns Chefs, em marketing, estão pegando carona para se promover. Numa tentativa de mostrar aos gringos e aos brasileiros “chiques” todo o exotismo dos “nossos” produtos lança-se mão daquilo que é realmente legível ao nosso povo.

            Acho que isso aconteceu, acidentalmente, com Laurant Suaudau quando chegou no Rio de Janeiro, a Mandioquinha ou Batata Baroa que era velha conhecida das populações mais pobres era desprezada pelos mais abastados , ele inclusive só conseguiu vendê-la no restaurante do Copacabana Palace quanto botou um nome francês, como se assim a “sociedade” carioca pudesse comer sem culpa, mesmo não sabendo que se tratava. Não acho que o Chef Laurent tenha feito o uso destes ingredientes propositalmente para sua promoção, ele adotou o modo de operar de Paul Bocuse e a Nouvelle Cusine, usar os melhores produtos de cada estação disponíveis no local. Já Alex Atala e outros vão buscar os produtos nos lugares mais distantes para que uma “elite”, que continua ignorante ao próprio país, consuma e ele nem precisa colocar nomes franceses no cardápio, basta o nome do restaurante “DOM” e vale-tudo, bem caro por sinal. E tome bunda de formiga, priprioca, jambu e outros ingredientes que, em alguns casos, nem são comidos nos lugares de onde saem.

            Como Dória pontua no seu texto, nem todos estão indo nessa direção, muitos dos Chefs nacionais buscam a legibilidade: “Rodrigo Oliveira mostrou que segue um caminho inverso: não persegue ingredientes raros e se debruça sobre os mais corriqueiros, como seu “mocofava”, seu torresmo ou seu “escondidinho” atestam.”. Não concordo que os estrangeiros estão mais interessados em conhecer a Amazônia do que o Brasil, como o autor afirma, se muitos de nós não percebemos claramente a diferença entre os dois, eles é que não tem a mínima idéia. Vejo que há uma disposição para conhecer  Brasil, depende de nós mostrarmos o legível ou o legítimo.

            Quando o texto fala sobre a “meditarranização” que Adrià e outros promoveram na Espanha como um caminho para a nossa gastronomia legível eu volto a pensar sobre o tamanho do Brasil, claro que há elementos possíveis que podem integrar essa cozinha, mas quais têm realmente identidade nacional?

            Percebe-se no texto que a parte da população que pode consumir a gastronomia de vanguarda no Brasil, legível ou legítima, mantém ligações com a elite dos tempos da colônia, ou seja, ignorante e cafona, comem no “DOM” o que provavelmente não comeriam no Ver-o-peso, com exceções é claro. 

Uma boa discussão

POR CARLOS ALBERTO DORIA

Gastronomia brasileira: legitimidade e legibilidade

Na Menu de janeiro 2012 faço uma análise da participação do nossos chefs no Gastronomika, aproveitando para apenas indicar um aspecto bastante complexo do momento atual.

Trata-se de saber até onde é legitimo falarmos em “culinária brasileira” quando usamos ingredientes nativos de consumo restrito e, por outro lado, até onde é legível a brasilidade através de ingredientes, nativos ou não. Ambas as questões dizem das relações dos brasileiros com sua própria culinária.

Legitimidade se refere a algo “brasileiro”, a exemplo do tucupi, mesmo para quem jamais o tenha experimentado – o que é a maioria da população brasileira. Afinal, é nativo e suficientemente enraizado em parcela do nosso vasto território. Legibilidade diz respeito àquilo que, nativo ou exótico aclimatado, é reconhecido claramente como “brasileiro”, a exemplo do arroz com feijão que todo mundo conhece. O tucupi é amazonico antes de ser “brasileiro” e só por nacionalismo dizemos “é nosso”; o feijão é nacional e popular, está em quase todos os cantos do pais em centenas de variedades.

A “amazonidade” como produto

Alex Atala, há anos, tem feito um esforço hercúleo para se apropriar da “amazonidade” em nossa culinária de ponta. Para tanto, lança mão do tucupi, jambu, priprioca, formigas. Sabemos identificar o quanto de simbólico há nisso tudo, mas só o tucupi é “popular” na Amazonia, e a priprioca sequer é comestível para os caboclos. A formiga – reminiscência das culinárias indígenas de norte a sul do país – hoje ocupa o papel de metonímia da culinária amazônica, tanto em Atala como em Mara Sales.

A Amazonia construída, o cerrado construído à mesa, assim como as velhas tradições que caíram em desuso, são invocadas mais licenças poéticas do que outra coisa. Para lhes dar vitalidade há um contínuo arrombamento de portas abertas, só possível porque essas portas estão distantes da maioria dos brasileiros e estrangeiros. Atala, por exemplo, nos dá conta de uma receita de tucupi com formiga, “descoberto” em São Gabriel da Cachoeira – preparação tradicional que Dna Brazi já havia apresentado em São Paulo, em 2009, e à qual o conde Ermano Stradelli (fonte básica de Camara Cascudo sobre a Amazônia) já se referira no século XIX. A rigor, em vez de “descoberta” seria melhor dizer “repertório em desuso”.

Helena Rizzo também se encaminhou um pouco por ai. Em suas pesquisas, ela já utilizou o puxuri, assim como hoje utiliza o licuri fresco. Tudo isso, é claro, vai traçando um perfil culinário legitimamente brasileiro. Mas é um Brasil estranho à mesa para os próprios brasileiros. Em outras palavras, um Brasil quase ilegível, para não dizer incomível ou incomido. Ele, de fato, só existe – e brilha – nos restaurantes exclusivos de São Paulo.

O que une tudo isso é uma ideia de culinária brasileira, mais do que uma prática alimentar comum aos brasileiros. A distância entre uma coisa e outra se explica por vários fatores: a imensidão do território e o isolamento entre suas várias culinárias; os diferentes hábitos alimentares das classes sociais; o conceito “em alta” de brasilidade, etc.

Mas a própria estrutura do ensino da gastronomia brasileira não encontra o seu caminho para revelar um Brasil íntegro à mesa. É incapaz de definir essa culinária e dela tratar, a não ser esquartejando-a. Uma faculdade de gastronomia propõe um curso de cozinhas regionais do Sul, do Sudeste I, do Sudeste II, do Centro-Oeste, do Norte, do Nordeste I, II, III e IV! E que cada futuro chef componha seu próprio samba do crioulo doido.

A banalidade do popular não é obstáculo à gastronomia

Por outro lado, no mesmo Gastronomika, Rodrigo Oliveira mostrou que segue um caminho inverso: não persegue ingredientes raros e se debruça sobre os mais corriqueiros, como seu “mocofava”, seu torresmo ou seu “escondidinho” atestam. A pesquisa de Rodrigo toma por base o comer popular, fazendo variações em torno dele – inclusive variações técnicas. Qualquer brasileiro reconhece a legibilidade de seus pratos, independente de gostar ou não. Simplesmente não há qualquer estranhamento, a não ser algum motivado por perícia técnica.

Esses dois caminhos mostram a diferença entre legibilidade e legitimidade: tudo o que é “brasileiro”, de uma perspectiva nacionalista, que toma os ingredientes como constitutivos da Nação, é legítimo; tudo o que é popular, vulgar, é legível, independente da origem dos ingredientes.

É exatamente isso que faz da gastronomia praticada por Roberta Sudbrack um caso único: os ingredientes que ela escolhe são legíveis, e com boa dose de legitimidade, no sentido antes apontado. Isso faz com que admiremos sobretudo os ângulos inusitados pelos quais agarra os ingredientes mais simples, como o quiabo ou o milho. Mesmo assim, ela parece temer uma espécie de violação à tradição, dadas as sucessivas referencias que faz à continuidade entre a sua culinária e o mundo costumeiro.

Ora, uma gastronomia nacional de ponta talvez dependa, para se afirmar aqui, mais da legibilidade do que da legitimidade. No exterior, talvez seja o inverso, dado que a audiência está mais interessada em conhecer a Amazonia do que o Brasil em geral.

Um exemplo estrangeiro

Se observarmos de perto outras experiências nacionais, como a da geração de Adrià, ela nos indica a “mediterranização” da cozinha espanhola como a fase decisiva para a sua gastronomia, quando ele e um grupo de jovens cozinheiros mergulharam na identificação dos sabores reconhecidos pelos espanhóis.

O bacalhau pil-pil, os produtos do porco, a merluza, a cebola, o alho, a batata, os pimentões, os frutos do mar e assim por diante, forneceram o terreno sólido, popular, para os experimentos técnicos consagrados (descontrução, reconstrução, baixa-temperatura, etc) que se disseminaram no País Basco e na Cataluña. Hoje essa culinária apresenta infinitas variações pirotécnicas – fruto de um feliz envolvimento da universidade na pesquisa culinária – sem ter se distanciado daquela base de sabores tão facilmente reconhecíveis. Os espanhóis vanguardistas nunca abriram mão da legibilidade.

Então, por que se privilegia hoje, entre nós, na gastronomia de ponta, a busca da legitimidade em detrimento da legibilidade? Em primeiro lugar temos a nossa história. Desde o século XIX as elites brasileiros passaram a tomar a cultura estrangeira como modelo à mesa e, pois, muito facilmente passaram a desejar uma culinária francesa (como, aliás, na maior parte dos países). Isso resultou em uma dualidade notável: há o comer popular e há o comer das elites.

O comer popular apresenta uma riqueza e diversidade que depende mais dos ecossistemas regionais do que dos suprimentos externos e, inversamente, a alimentação urbana das classes médias e altas depende mais das modas externas e dos fluxos de importação, sendo relativamente independente dos ecossistemas brasileiros. Dai o desconhecimento das culinárias regionais e os ditos “problemas de logística” que deixam produtos legitimamente brasileiros distantes dos grandes mercados nacionais. Mal conhecemos no Sudeste a riqueza das farinhas de mandioca do Norte. Simplesmente ela não nos interessa.

A possibilidade da conciliação

Como conciliar esses dois Brasis comestíveis? O que nossos chefs da vanguarda fazem é buscar comunicações com a alimentação popular, reinscrevendo-a no cardápio das elites; mas o fazem promovendo deslocamentos e “misturando” produtos de ecossistemas diversos com perda de legibilidade do conjunto. Assim, é pouco provável que signos da culinária popular da Amazonia possam ir além dos círculos elitizados do Sudeste. O pirarucu é um exemplo: o bacalhau ainda é mais popular do que ele, embora este tenha, historicamente, substituido o bacalhau em largas parcelas do território nacional. Hoje o pirarucu é um produto de luxo.

Mesmo em relação a produtos comuns, como o porco, a diferenciação das partes apreciadas é notável. Os “miúdos”, no Brasil, se tornaram signo de pobreza, ao passo que na Europa nunca perderam o vínculo com a culinária tradicional, de elite ou popular – ambas irmanadas na velha ruralidade das suas origens e tradições. As elites brasileiras preferem o lombo de porco, o filé mignon. Sardinha é outro exemplo curioso: popular, raramente se come em restaurantes de classe média ou alta.

Os chefs brasileiros procuram solucionar a ruptura entre o popular e o elitismo apelando para uma idéia de “terroir” que quase se confunde com uma posição no GPS, deixando de lado a rica vivência cultural que faz parte das emoções do comer e, assim, apostando numa espécie de exotismo interno. O tucupi, quando aparece nos restaurantes paulistanos estrelados, tem uma legibilidade mais próxima da cozinha tailandesa, embora os chefs insistam na tecla da sua insuperável legitimidade.

A ideia de terroir, reforçada como tendência graças à projeção internacional do restaurante Noma, pode ser uma rima, mas não é uma solução.O desafio é se encontrar, manter a legibilidade, nos inúmeros territórios brasileiros; não se perder neles, como ocorre ao fracionarmos o país nos seus regionalismos fechados sobre si.

Conciliar legitimidade (enraizamento territorial) e legibilidade (enraizamento histórico no sistema culinário no qual comemos) é o caminho mais difícil. Exige dosar o exótico de nós mesmos com a banalidade de nós mesmos. Exige mergulhos no óbvio – feijões, farinhas de mandioca, derivados do milho, interiores de animais, frutas mais comuns, etc – com leveza, clareza, criatividade e, sobretudo, palatabilidade. A aceitação de cozinhas tão distintas, como a japonesa, e de ingredientes tão “estranhos”, como o jambu, bem mostram a abertura do público para as novas experiências. É tudo uma questão de tempo e de persistência.

Mas talvez o momento seja único em nossa história gastronomica, graças a uma maior tolerância às novidades. Tudo é questão de saber aproveita-lo, como os espanhóis – tão admirados – um dia souberam mergulhar na culinária popular de seus países para revelar uma modernidade insuspeitada.

Fonte: e-Boca Livre: Gastronomia brasileira: legitimidade e legibilidade.

‘Ônibus-feira’ circula por bairros de João Pessoa vendendo produtos sem agrotóxicos – NE10

E na próxima semana, o \’ônibus-feira\’ já tem programação definida. Na terça-feira (17), os produtos estarão à disposição no estacionamento do Sebrae, no Bairro dos Estados. Na quarta-feira (18) será a vez da Praça Alcides Carneiro, em Manaíra, e na quinta-feira (19), no período da manhã no Busto de Tamandaré e à tarde no bairro do Bessa, próximo à escola Cidade Viva. Apenas neste último, a feira funciona durante todo o dia. Nos demais locais o \’ônibus-feira\’ está aberto entre 5h e 8h.

via‘Ônibus-feira’ circula por bairros de João Pessoa vendendo produtos sem agrotóxicos – NE10.